Das capas de discos para as ruas de terra vermelha: moda punk no interior paulista no início dos anos 1980
DOI:
https://doi.org/10.26563/dobras.v18i44.1904Palavras-chave:
Capas de discos punk rock, Identidade, Moda, Estrutura de sentimento, Cultura materialResumo
O artigo endereça elementos do punk rock observados na pequena cidade de Santa Gertrudes/SP nos primeiros anos da década de 1980. A partir da argumentação de que os significados culturais associados ao punk rock (tanto musical quanto visual) foram inspirados no rock’n’roll e na estética visual dos anos 1950 e 1960, defende-se aqui que, em tempos pré-internet (quando a informação circulava com maior dificuldade e morosidade), as capas dos álbuns de música punk cumpriram um papel comunicacional. Enquanto, por um lado, os LPs propriamente ditos divulgavam a sonoridade punk, suas capas apresentavam indicativos do modo como deveriam se vestir e se fazerem ver aos jovens punk rockers do mundo que tinham acesso àquelas materialidades. Neste sentido, as capas de discos de punk rock são abordadas aqui como forma de cultura material que seriam um fator chave no estabelecimento de identidade entre os jovens da pequena localidade no interior paulista. Em termos teóricos, o artigo apresenta análises e reflexões considerando (a) a noção de estrutura de sentimento conforme definida por Raymond Williams, (b) uma adaptação do conceito de comunidade imaginada desenvolvido por Benedict Anderson e (c) a cultura material conforme apresentada por Daniel Miller. Metodologicamente, é realizada análise comparativa entre capas de LPs do período e o registro fotográfico obtido durante uma apresentação da banda punk local Lixo Atômico procurando evidenciar como os jovens músicos daquela banda incorporaram elementos chave da moda punk em seu modo de vestir no interior paulista ainda no início dos anos 1980.
Downloads
Referências
ABRAMO, Helena Wendel. Cenas juvenis: punks e darks no espetáculo urbano. São Paulo: Página Aberta, 1994.
ANDERSON, Benedict. Comunidades imaginadas: reflexões sobre a origem e a difusão do nacionalismo. São Paulo: Companhia das Letras, [1983] 2011.
BAUMAN, Zygmunt. A cultura no mundo líquido moderno. Rio de Janeiro: Zahar, 2013.
BARBOSA, Lívia; CAMPBELL, Colin. O consumo nas ciências sociais contemporâneas. In: _____ (org.). Cultura, Consumo e Identidade. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2006. p. 21-44.
BIVAR, Antonio. Punk. Edições Barbatana, 2018.
BRANCO, Pedro de Freitas. Sobreviventes: o rock em Portugal na era do vinil. Lisboa: Marcador, 2019.
CAIAFA, Janice. Movimento punk na cidade: a invasão dos bandos sub. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1985.
DOE, John. Under the big black sun: a personal history of L.A. punk. Philadelphia: Da Capo Press, 2016.
DOE, John. More fun in the new world: the unmaking and legacy of LA punk. New York: Hachette books, 2021.
FILIER, Parsifal Lourenço. Entrevista por Skype concedida ao autor. Santa Gertrudes/Curitiba, 01 mai. 2020.
FILIER, Parsifal Lourenço. Entrevista presencial concedida ao autor. Santa Gertrudes, 29 mar. 2024.
HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A Editora, [1992] 2006.
LEIGH, Mickey; MCNEIL, Legs. Eu dormi com Joey Ramone: memórias de uma família punk rock. Caxias do Sul: Belas Letras, 2022.
MCNEIL, Legs; MCCAIN, Gillian. Mate-me por favor (please kill me): a história sem censura do punk. Porto Alegre: L&PM Editores, 1996.
MARQUIONI, Carlos Eduardo. Do rock como materialidade alternativa para acesso a “estruturas de sentimento”: o Velvet Underground e o cenário da música pop no final dos anos 1960. Per Musi, 38 Belo Horizonte, n.38 (2018), 1-23, mai. 2018. doi: 10.35699/2317-6377.2018.5162.
MARQUIONI, Carlos Eduardo. Uma fúria, três metrópoles: breves apontamentos acerca da aurora do punk rock em Nova Iorque, Londres e São Paulo. In: FENERICK, José Adriano (org.). Nas trilhas do rock: Contracultura e Vanguarda. Curitiba: Appris, 2021a, p. 205-224.
MARQUIONI, Carlos Eduardo. Uma fúria compartilhada em toda parte: sentimento e cultura material nos primórdios do punk rock do interior paulista. ArtCultura, 23(43), 143-159, jul.-dez. 2021b. doi:10.14393/artc-v23-n43-2021-64089.
MILLER, Daniel. Material culture and mass consumption. Oxford and New York: Basil Blackwell, 1987.
MILLER, Daniel. Stuff. Cambridge: Polity Press, 2010.
REYNOLDS, Simon. Rip it up and start again: postpunk 1978-1984. New York: Penguin Books, 2005.
ROBB, John. Punk rock: an oral history. Michigan: PM Press, [2006] 2012.
SIMMEL, Georg. The Philosophy of Money. London and New York: Routledge Taylor & Francis, [1978] 2004.
SIMONELLI, David. Working class heroes: Rock music and British Society in the 1960s and 1970s. Plymouth: Lexington Books, 2013.
WESTWOOD, Vivienne; KELLY, Ian. Vivienne Westwood. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 2014.
WILLIAMS, Raymond. Culture is ordinary. In: GABLE, Robin. (ed.). Resources of hope: Culture, democracy, socialism. London: Verso, 1989. p. 3-18.
WILLIAMS, Raymond. The long revolution. Peterborough: Broadview Press Ltd., [1961] 2001.
WILLIAMS, Raymond. Drama from Ibsen to Brecht. London: Chatto & Windus, [1952, 1968] 1971.
WILLIAMS, Raymond. Marxismo e literatura. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1979.
![Imagem com fundo verde vibrante mostrando uma mulher nua sentada de lado sobre um banco de madeira clara. Ela tem pele clara e longos cabelos ruivos presos em um rabo de cavalo que cai sobre seu ombro direito e suas costas. Seu braço esquerdo está amarrado com corda vermelha grossa, parcialmente visível. Sobre seu corpo há uma ilustração gráfica de ramos pretos com folhas vermelhas estilizadas que sobem da coxa esquerda em direção às costas, integrando-se visualmente com a figura. No canto direito da imagem, na vertical, está escrito “[dossiê]” em letras brancas.](https://dobras.emnuvens.com.br/public/journals/1/submission_1904_2604_coverImage_pt_BR.jpg)
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2025 Carlos Eduardo Marquioni

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-ShareAlike 4.0 International License.
Direitos Autorais para artigos publicados nesta revista são do autor, com direitos de primeira publicação para a revista. Em virtude de aparecerem nesta revista de acesso público, os artigos são de uso gratuito, com atribuições próprias, em aplicações educacionais e não-comerciais