O vestir e os conflitos femininos na obra de Clarice Lispector: o caso do chapéu da rapariga
DOI:
https://doi.org/10.26563/dobras.v13i28.1058Palavras-chave:
Clarice Lispector. Chapéu. Epifania. Mulheres das classes médias. Honra e vergonha.Resumo
O conto de Clarice Lispector Devaneios e embriaguez de uma rapariga é tomado como estudo de caso, no qual um chapéu, como elemento da prática de vestir, é o motivo da epifania da personagem central. Cansada da vida que leva por causa das suas obrigações domésticas, a protagonista se vê desafiada pelo chapéu de uma jovem que encontra em uma tasca. O conto é exemplar para discutir questões da vida feminina no Brasil da década de 1950, revisitando a vida e a obra da escritora à luz do pensamento de Julian Pitt-Rivers. Este autor discute as categorias honra e vergonha, conectando-as ao julgamento moral das mulheres das camadas médias na sociedade andaluza. Assim, o texto a seguir procura refletir sobre a condição feminina das camadas médias no Brasil e o chapéu como objeto que dialoga com essas inquietações. O chapéu como corolário de posição social incomoda a personagem de Lispector. Somente a resiliência ante as obrigações normatizadas como práticas femininas nos segmentos médios poderá livrar aquela mulher da humilhação provocada pelo chapéu da outra.
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