Teenagers From Outer Space
Contributos para uma genealogia dos fios que teceram a moda e o do-it-yourself em Portugal
DOI:
https://doi.org/10.26563/dobras.i34.1470Palavras-chave:
Moda, Punk, Do-it-yourself (DIY), PortugalResumo
A moda - em Portugal - ainda permanece algo remota nos estudos académicos. Poucas são as investigações, de enfoque histórico-social, que se debruçaram sobre a importância da moda em Portugal à exceção dos trabalhos de Cristina L. Duarte (2016). Procurando obviar esta relativa omissão, propomos um exercício diacrónico – desde finais dos anos 1970 – incidente na relação entre o do-it-yourself (DIY), a moda manifesta nas culturas urbanas (juvenis) e o (pós)-punk privilegiando uma abordagem de caráter qualitativo e etnográfico. O presente artigo visa, sobretudo, elucidar, analisar e refletir sobre a tríade moda, DIY e punk, procurando dar conta das metamorfoses que a praxis e o ethos DIY sofreram desde meados da década de 1970 (no pós Revolução dos Cravos) até à atualidade. Prioriza-se, nesse sentido, a abordagem dos seguintes eixos: a anti-moda, o punk, o cosmopolitismo e a inevitabilidade do DIY no final dos anos 1970; a moda, o (pós)-punk, a resistência e a implantação do DIY nos anos 1980; a penetração da moda e da estética punk e o desenvolvimento do DIY nos movimentos sociais e lifestyles alternativos nos anos 1990; e ainda, a moda, a comodificação do DIY, a produção artística, o ativismo ecológico e os slow fashion movements nos anos 2000 e subsequentes. Assim, através destes quatro eixos-bússola, aduzimos um percurso empírico-concetual em torno da evolução do DIY e da moda em Portugal, enveredando por um périplo mnemónico, onde revisitámos lojas, eventos, acontecimentos, espaços de lazer, atores e estéticas; indagando, em cada um destes tópicos, os fios com que se foi costurando o DIY tendo em vista o princípio barthesiano de que uma variação do vestuário se faz necessariamente escoltar por uma variação do mundo e vice-versa.
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