Da memória encarnada ao saber/fazer: as tramas da renda de Saubara (Bahia)
DOI:
https://doi.org/10.26563/dobras.v18i44.1905Palavras-chave:
Renda de bilros, Corpo, Memória, Saber/fazer, Saubara (Bahia)Resumo
Este artigo tem como objetivo refletir sobre como corpo e memória se engajam e culminam no saber-fazer artesanal, com foco especial na renda de bilros em Saubara, na Bahia. Trata-se de uma discussão teórica, ancorada em uma realidade utilizada como exemplo de reflexão, que enfatiza a destreza manual presente no processo de criação e destaca a dimensão sensível da atividade. Reconhecemos que as práticas culturais, moldadas e mantidas pela memória coletiva, desempenham um papel crucial na construção da identidade da comunidade, funcionando como âncoras que preservam o conhecimento e a memória relacionados ao saber-fazer da renda de bilros, ao mesmo tempo em que servem de base para o desenvolvimento do saber-fazer individual de cada rendeira. As mãos, dotadas de uma destreza singular, emergem como a própria essência desse corpo, manifestando-se plenamente no ato de rendar por meio de sua experiência encarnada e de sua interação com o mundo ao redor. Para esta reflexão, utilizamos um arcabouço conceitual que abrange desde a fenomenologia do corpo de Merleau-Ponty (1994), passando pelas contribuições sociológicas de Mauss (2003) e Le Breton (2007), até os estudos sobre memória, cultura e renda, como Pollak (1989) e Fechine (2013), além de investigações e levantamentos socio-históricos sobre as rendas, como os de Ramos e Ramos (1948), Girão (1984) e Felippi (2021). Esta investigação contribui para as reflexões acadêmicas sobre práticas artesanais ao apresentar uma abordagem fenomenológica, promovendo uma articulação entre os estudos do corpo e da memória.
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