Juventude “transada”: tensionamentos das normativas de gênero na moda promovida pela revista Pop (anos 1970)

Autores

DOI:

https://doi.org/10.26563/dobras.v12i27.986

Palavras-chave:

Moda. Gênero. Revista Pop. Anos 1970.

Resumo

Nos anos 1970, conexões entre a contracultura e os movimentos feminista e gay resultaram em tensionamentos dos modelos normativos de feminilidades e masculinidades. Tais mudanças comportamentais reverberaram no figurino de artistas da cultura pop assim como no vestuário do cotidiano. Sendo assim, a partir de algumas imagens de um editorial veiculado em 1973 pela Pop, primeira revista destinada ao público jovem no Brasil, discutimos, sob a ótica de gênero, como o emprego da moda reiterou e regulou, mas também questionou e ampliou, os limites para a construção dos corpos. Para tanto, a discussão, que dialoga com outros periódicos da época, apoia-se, sobretudo, na articulação entre as áreas dos Estudos de Gênero e História da Moda. Nós compreendemos que a moda não é neutra, mas sim uma prática cultural, sendo produzida segundo visões de mundo particulares, podendo reforçar ou contestar desigualdades sociais. Nossa análise indica que a moda em questão, veiculada pela Pop, funcionou, em certa medida, como uma estratégia material de tensionamento do conservadorismo social, refutando padrões tradicionais de gênero e produzindo modelos de feminilidades e masculinidades mais libertários.

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Publicado

2019-12-19

Como Citar

FRANÇA, M. S.; SANTOS, M. R. dos. Juventude “transada”: tensionamentos das normativas de gênero na moda promovida pela revista Pop (anos 1970). dObra[s] – revista da Associação Brasileira de Estudos de Pesquisas em Moda, [S. l.], v. 12, n. 27, p. 123–146, 2019. DOI: 10.26563/dobras.v12i27.986. Disponível em: https://dobras.emnuvens.com.br/dobras/article/view/986. Acesso em: 28 mar. 2024.

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