Chamada em fluxo contínuo
A dObra[s] recebe em fluxo contínuo submissões de artigos, resenhas, entrevistas e traduções de temática que contemple o escopo da revista. Para mais informações acesse https://dobras.emnuvens.com.br/dobras/diretrizes"
Próximos dossiês com chamadas de trabalhos abertas:
Número 47:
Dossiê dObra[s] 47
Relações de trabalho e gênero no design têxtil e de moda
Organizadoras:
Dra. Ana Julia Melo Almeida (Pesquisadora de pós-doutorado - IEB-USP)
Dra. Francisca Nogueira Mendes (Professora e pesquisadora – Universidade Federal do Ceará)
Prazo para envio de artigos: outubro 2025
Previsão de publicação: agosto e/ou dezembro 2026
Este dossiê tem por objetivo reunir artigos, entrevistas, resenhas e traduções que abordem as relações de trabalho e gênero, além de narrativas e memórias presentes nas práticas têxteis. Ao compreender o fazer têxtil como uma prática social e cultural historicamente constituída, nos interessa pensar de que maneira esses artefatos se relacionam com as pessoas que os produzem, além de refletir sobre os usos e significados que os objetos adquirem ao circularem por diferentes espaços.
Nessa perspectiva, convidamos pesquisas que se dediquem a análises e abordagens que considerem a produção têxtil em um escopo expandido: no âmbito dos objetos projetados aos corpos e ao vestir; artefatos que se relacionam com o ambiente doméstico; peças que participam de práticas expositivas, ou que carreguem memórias sobre os fazeres e saberes, entre outros. Nosso intuito com este dossiê é debater as materialidades têxteis por meio das relações de trabalho e de gênero, e delas como lugar de memória e narrativas, compreendendo os ofícios, conhecimentos, localidades e processos de trabalho que atravessam a elaboração desses artefatos. Também nos interessam as hierarquias que perpassam as práticas têxteis, relacionando a produção desses artefatos a diferentes marcadores sociais - classe, raça, etnia, gênero, localização geográfica etc.
Abaixo, alguns temas sugeridos para esta edição, mas não apenas eles:
- Abordagens críticas à historiografia do design por meio dos artefatos têxteis;
- Espaços de profissionalização e de trabalho voltados às práticas têxteis, sejam elas artesanais ou industriais;
- Análise crítica das hierarquias que compõem a produção, a circulação e a documentação dos artefatos têxteis no campo do design;
- Memórias e narrativas dos fazeres têxteis, considerando o registro dos processos de trabalho e as dinâmicas de gênero;
- Estudos da cultura material que considerem a dimensão de gênero associada aos artefatos têxteis;
- Relação entre a constituição de localidades e bairros associados à produção têxtil e as dinâmicas de trabalho e de gênero situadas;
- Fluxos migratórios, relações de trabalho e localidades produtoras têxteis;
- Análise das relações de trabalho nos processos produtivos têxteis a partir dos estudos de gênero, das teorias feministas e de perspectivas decoloniais;
- Abordagens interseccionais que considerem os diferentes marcadores sociais presentes na produção de artefatos têxteis - classe, raça, etnia, gênero, localização geográfica etc.
Referências
ALMEIDA, Ana Julia Melo. Mulheres e profissionalização no design: trajetórias e artefatos têxteis nos museus-escolas MASP e MAM Rio. Tese (doutorado) Programa de Pós-Graduação em Design - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, 2022. Disponível em: [https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/16/16140/tde-16012023-175956/pt-br.php].
BUCKLEY, Cheryl. Made in Patriarchy: Toward a Feminist Analysis of Women and
Design. Design Issues, v. 3, n. 2, 1986, p. 3-14.
BUCKLEY, Cheryl. Made in Patriarchy II: Researching (or Re-Searching) Women and Design. Design Issues, v. 36, n. 1, 2020, p. 19-29.
CARVALHO, Vânia Carneiro de. Gênero e Artefato. O sistema doméstico na perspectiva da cultura material - São Paulo, 1870-1920. São Paulo: EDUSP/FAPESP, 2008.
COLLINS, Patricia Hill; BILGE, Sirma. Interseccionalidade. São Paulo: Boitempo, 2020.
GONZALEZ, Lélia. Racismo e sexismo na sociedade brasileira. Revista Ciências Sociais Hoje, Anpocs,1984, p. 223–244.
HIRATA, Helena. Gênero, classe e raça Interseccionalidade e consubstancialidade das relações sociais. Revista Tempo Social, v. 26, n.1, 2014, p. 61-73.
MENDES, Francisca R. N. Modelando a vida no Córrego de Areia: tradição, saberes e itinerários. Fortaleza: Expressão Gráfica Editora, 2011.
SANTOS, Marinês Ribeiro dos. Gênero e cultura material: a dimensão política dos artefatos cotidianos. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 26, n. 1, 2018, p. 241-282.
SIMIONI, Ana Paula Cavalcanti. “Regina Gomide Graz: modernismo, arte têxtil e relações de gênero no Brasil”. Revista do Instituto de Estudos Brasileiros, v. 45, 2007, p. 87-106.
SIMIONI, Ana Paula Cavalcanti. Bordado e transgressão: questões de gênero na arte de Rosana Paulino e Rosana Palazyan. Revista Proa, Campinas, v. 2, 2010, p. 1-19.
SCOTT, Joan W. Gender: A Useful Category of Historical Analysis. The American Historical Review, v. 91, 1986, p. 1053-1075.
SCOTT, Joan W. Gender: Still a useful category of analysis? Diogenes, v. 57, n. 1, 2010, p. 7-14.
SOIHET, Rachel; PEDRO, Joana M. A emergência da pesquisa da História das Mulheres e das Relações de Gênero. Revista Brasileira de História, São Paulo, v. 27, n. 54, 2007, p. 281-300.
SMITH, T’ai. Bauhaus weaving theory: from feminine craft to mode of design. Minneapolis: University of Minnesota Press, 2014.
VERGÈS, Françoise. Um feminismo decolonial. São Paulo: Ubu Editora, 2020.
WELTGE, Sigrid. Women’s work: textile art from the Bauhaus. Londres: Thames and Hudson, 1993.
Número 46:
Dossiê dObra[s] 46
“Moda e Ciências Sociais”
Organizadores:
Dr. Henrique Grimaldi (Programa de Pós-Graduação em Artes, Cultura e Linguagens, Universidade Federal de Juiz de Fora)
Dra. Maria Lucia Bueno (Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais; Programa de Pós-Graduação em Artes, Cultura e Linguagens, Universidade Federal de Juiz de Fora)
Prazo para envio de artigos: 30 de julho de 2025
Previsão de publicação: abril e/ou agosto de 2026
No final do século XIX e início do século XX, o tema da moda ocupou um lugar central nas reflexões de intelectuais e literatos interessados em desvendar a dinâmica da modernidade. Da flânerie de Baudelaire – dos passeios pelos recém abertos bulevares, do interesse pelas recém inventadas vitrines, etc. – a tragédia de Emma Bovary, em Flaubert, a consumidora desenfreada de seu tempo, a moda desponta como um novo modo de vida inserido no fluxo da cultura urbana e da sociedade industrial.
Dentro de um escopo mais amplo das ciências humanas, as ciências sociais firmaram-se, desde então, como uma perspectiva teórica a partir da qual o próprio conceito de moda tem sido continuamente repensado e reformulado para abarcar as nuances e dialéticas da sociedade de consumo. Tendo portanto como referente esta tradição e as teorias, temas e métodos sociológicos, antropológicos e/ou da história social, este dossiê tem por objetivo reunir artigos, entrevistas, resenhas e traduções que ajudem a mapear e pensar as transformações, culturais, políticas, econômicas e sociais dos mundos da moda, de final do século XIX até a contemporaneidade.
São bem-vindos trabalhos que abordem, mas não unicamente:
- As teorias clássicas e/ou contemporâneas sobre a moda;
- A moda como fenômeno sociológico e antropológico;
- Moda, sociabilidade e distinção cultural;
- O sistema da moda: perspectivas históricas e sociológicas;
- Rituais de consumo na moda;
- Relações entre cultura, consumo e estilos de vida;
- Produção, circulação e mediação de produtos e imagens de moda;
- Moda e globalização;
- As geopolíticas da moda;
- Estilos, modas e culturas urbanas juvenis;
- Interseccionalidade nas sociologias e antropologias do vestir;
- Profissionais e agentes da moda: estilistas, fotógrafos, produtores, etc.
- As instituições da moda: museus, fundações, agentes de certificação, etc.
- A moda e suas indústrias: das empresas familiares aos conglomerados de luxo;
- Processos e estratégias de legitimação na moda;
- Diálogos entre moda, arte e outras formas culturais.
Bibliografia de referência
BALDASARRE, María Isabel. Bien vestidos: una historia visual de la moda en Buenos Aires 1870-1914. Buenos Aires: Ampersand, 2021.
BARTHES, Roland. O sistema da moda. São Paulo: Martins Fontes, 2009.
BERGAMO, Alexandre. A experiência do status. São Paulo: Editora da UNESP, 2007.
BLUMER, Herbert. Fashion: From Class Differentiation to Collective Selection. The Sociological Quarterly, 10(3), pp. 275-291, 1969.
BONADIO, Maria Claudia. Moda e Publicidade no Brasil nos Anos 1960. São Paulo: nVersos, 2014.
BOURDIEU, Pierre; DELSAUT, Yvette. O costureiro e sua grife: contribuição para uma teoria da magia. In: BOURDIEU, Pierre. A produção da crença. Porto Alegre, Zouk, pp 113- 190, 2004.
BUENO, Maria Lucia (Org); CRANE, Diana. Ensaios sobre moda, arte e globalização cultural. São Paulo: Senac, 2001.
BUENO, Maria Lucia; CAMARGO, Luiz Octavio de Lima. Cultura e Consumo: Estilos de Vida na Contemporaneidade. São Paulo: Editora Senac, 2008.
BUENO, Maria Lucia; CRANE, Diana. Dossiê: Moda e Teoria Social. Iara: Revista de Moda, Cultura e Arte, 1(1), 364 p., 2008.
CORRÊA, Clecius Campos. Moda no museu: os vestidos-objeto de Olly Reinheimer no MAM-RJ (1969). dObra[s] – revista da Associação Brasileira de Estudos de Pesquisas em Moda, 12(27), p. 165–192, 2019.
CRANE, Diana. A moda e seu papel social: classe, gênero e identidade das roupas. São Paulo: Senac, 2006.
DURAND, José Carlos. Moda, luxo e economia. São Paulo: Babel cultural, 1988.
ENTWISTLE, Joanne. The aesthetic economy of fashion: market and values in clothing and modelling. Oxford: Berg, 2009.
ERNER, Guillaume. Vítimas da Moda? Como a criamos, por que a seguimos. São Paulo: Senac, 2005.
FIGUEREDO, Henrique Grimaldi; ÁBILE, Bárbara Venturini. Celine Art Project: notas sobre arte, luxo e a maioridade do capitalismo artista. ARS (USP), 21(47), pp. 1-58, 2023.
KAWAMURA, Yuniya. The Japanese Revolution in Paris Fashion. Londres: Berg, 2004.
KONTIC, Branislav. Inovação e redes sociais: a indústria da moda em São Paulo. Doutorado em Sociologia. Universidade de São Paulo, 2007.
LIPOVETSKY, Gilles. O império do efêmero. São Paulo: Cia das Letras, 2006.
MICHETTI, Miqueli. Moda brasileira e mundialização. São Paulo: Annablume, 2014.
MONNEYRON, Frédéric. La sociologie de la mode. Paris: PUF, 2017.
MORA, Emanuela. Fare moda: Esperienze di produzione e consumo. Milão: Bruno Mondadori, 2009.
ORTIZ, Renato. O Universo do Luxo. São Paulo: Alameda, 2019
PERROT, Philippe. Les Dessus et les dessous de la bourgeoisie: Une histoire du vêtement au xixe siècle. Paris: Éditions Complexe, 1992.
RAINHO, Maria do Carmo Teixeira. Moda e revolução nos anos 1960. Rio de Janeiro: Contra Capa, 2014.
ROCHE, Daniel. A cultura das aparências. São Paulo: Senac, 2007.
SANT´ANNA, Mara Rúbia. Teoria de moda: sociedade, imagem e consumo. São Paulo: Estação das Letras e Cores, 2007.
SANT’ANNA, Patrícia. Coleção Rhodia: arte e design de moda nos anos sessenta no Brasil. Doutorado em História. Universidade Estadual de Campinas, 2010.
SILVANO, Filomena. Antropologia da Moda. Lisboa: Documenta, 2021.
SIMMEL, Georg. Filosofia da moda. São Paulo: Edições Texto & Grafia, 2014.
SOUZA, Gilda de Mello e. O espírito das roupas: a moda no século XIX. São Paulo: Companhia das Letras, 1987.
WILSON, Elizabeth. Enfeitada de sonhos: moda e modernidade. Rio de Janeiro: Edições 70, 1989.
ZUKIN, Sharon. Point of Purchase: How Shopping Changed American Culture. Nova York: Routledge, 2004.
Número 45:
ARTES TÊXTEIS: TRAMAS DE HISTÓRIAS, VIDAS E MEMÓRIAS
Organizador/a:
Dr. Ronaldo de Oliveira Corrêa (Universidade Federal do Paraná)
Dra. Marilda Lopes Pinheiro Queluz (Universidade Tecnológica Federal do Paraná)
Prazo para envio dos trabalhos: 31 de março de 2025
Previsão de publicação: dezembro de 2025
O dossiê tem por objetivo reunir textos que problematizem as artes têxteis, suas práticas, autoras(es) e redes de agentes, circuitos de circulação e artefatos, sentidos e significados. Entendemos que essa trama complexa, que contesta hierarquias estéticas e sociais (Simioni, 2020), delineia o universo da produção expressiva que envolve fios, tecidos, máquinas, conhecimentos, pessoas, instituições, significados e histórias.
Ao modo de Barthes (2002) e sua mitologia, percebemos as artes têxteis como narrativas visuais e táteis, ou seja, expressivas, que nos contam sobre como organizamos os sentidos do mundo e da vida social. Dito de outra maneira, como uma das formas de dar legibilidade sensível para os eventos, sociabilidades e ações que constituem pessoas, grupos e, em alguma dimensão, imaginações, imaginários e culturas.
A narrativa mítica, por meio de sua interpretação plástica, literária, visual e cinematográfica, informa as versões possíveis que nos permitem fugir de uma história única da e sobre as experiências sensíveis e humanas. Nesse movimento, concordamos com Adichie (2009) sobre a necessidade de produzirmos, conhecermos e fazermos circular múltiplas versões dos acontecimentos que marcam as experiências humanas, como uma tática para resistir a processos de homogeneização e estereotipação, comuns às culturas de consumo. Abrimos espaço, desse modo, ao dissenso necessário para a manutenção das disputas que produzem as estéticas e as éticas, marcadas pela raça e o gênero, a classe e a geração, no tempo presente.
Atentar às artes têxteis, em alguma medida, significa centrar a atenção em sujeitos sociais historicamente deixados à margem, ou denominados anônimos, nas narrativas sobre a arte, design, arquitetura e moda, mais especificamente, e da história social das sociedades ocidentais, de forma geral. Com isso, pretendemos problematizar as ausências de reflexão sobre as memórias individuais e coletivas, os saberes, as técnicas e tecnologias, as estéticas e éticas, que esses sujeitos sociais e suas práticas produzem ou inscrevem no cotidiano a partir dos gestos de bordar, tramar, tecer, amarrar, suturar, rasgar, vestir e mesmo, despir.
Por outro lado, as artes têxteis nos interpelam com suas materialidades, memórias, histórias e versões produzidas desde fora de um circuito institucionalizado da cultura, ou seja, descentradas, sobre as formas que a arte, o design, a arquitetura e a moda, materializam artefatos, espaços, narrativas e imagens como repositórios de subjetividades, memórias e experiências com e a partir dos corpos (Reiman, 2020). Essas versões, formulam argumentos, inscrevem estilos narrativos, configuram associações entre materiais e experiências que reivindicam a participação na arena artística, ampliando debates centrais para o tempo contemporâneo, a saber, as relações entre arte e política, arte e ativismo, arte e corpo, arte e cidade, arte e vida.
Nessa perspectiva, é possível, também, pensar nos processos históricos, nos diálogos que as artes têxteis de hoje estabelecem ao reatar nós com a produção realizada no período entre os anos 1970 e 1990, por exemplo. Algumas das questões propostas naquele momento se atualizam, se reinventam, permanecem, em um desejo de insistência, de lembrança ou de não esquecimento. Temas como os corpos, as violências, o habitar, a diferença, a natureza, entre outros, acumulam-se ao revisitarmos a produção expressiva da segunda metade do século XX em relação àquela que se apresenta nesse tempo que vivemos.
Por fim, a partir de um emaranhado de possibilidades, pouca legibilidade e muitos fragmentos, propomos reunir textos sobre as artes têxteis que, enquanto um arquipélago flutuante, provoquem a cartografia de circuitos e circulações de coisas, pessoas, significados, conhecimentos. Esse dossiê apresenta-se como um esforço de aproximação com reflexões que as práticas têxteis incorporam e convertem em coisas visíveis, táteis, sensíveis.
Referências
ADICHIE, Chimamandra Ngozi. O perigo da história única. TEDGlobal 2009, July 2009. Disponível em: https://www.ted.com/talks/chimamanda_ngozi_adichie_the_ danger_ of_a_ single_ storytranscript?language=pt
BARTHES, Roland. Mitologias. 7a. Ed. São Paulo: Bertrand Brasil, 2002.
REIMAN, Karen Cordero. Intervenções suaves: cumplicidades entre arte e mídia têxtil. IN: SESC Pinheiros. Transgressões do Bordado na Arte. São Paulo, 2020. Catálogo de Exposição.
SIMIONI, Ana Paula Cavalcanti. Transgressões do Bordado na Arte. IN: SESC Pinheiros.
Transgressões do Bordado na Arte. São Paulo, 2020. Catálogo de Exposição.